Diante da perspectiva de repressão a manifestações de rua por parte das autoridades russas, um pequeno grupo de ativistas antiglobalização se reuniu por dois dias em um casarão numa zona industrial de São Peterburgo para uma “contracúpula”, enquanto os líderes das principais economias do planeta se preparavam para a oitava reunião do G20 – que começa nesta quinta-feira na cidade russa.
O evento, que contou com a presença de pouco mais de uma centena de pessoas entre a terça e a quarta-feira, contrasta com as grandes manifestações populares que costumam marcar os principais encontros envolvendo autoridades internacionais, como o G20.
“É quase impossível hoje nos manifestarmos na rua na Rússia”, afirmou à BBC Brasil o sociólogo Boris Kagarlitsky, diretor do Instituto de Globalização e Movimentos Sociais, de Moscou, e um dos organizadores da “contracúpula” em São Peterburgo.
Segundo ele, representantes de movimentos sociais de mais de 20 países – entre eles quatro brasileiros – discutiram “uma visão alternativa” para os principais temas tratados pelos líderes do G20. O encontro também contou com a presença de um representante do governo brasileiro – o secretário de relações internacionais do Ministério da Fazenda, Carlos Conzendey.
“Este é um espaço de articulação crítica da sociedade civil, das ONGs, para tratar de alternativas ou de temas que nem mesmo estejam sendo tratados pelo G20”, comentou um dos brasileiros presentes, o economista Adhemar Mineiro, assessor da CUT (Confederação Única dos Trabalhadores) e representante do Rebrip (Rede Brasileira pela Integração dos Povos).
A declaração final do encontro, divulgada nesta quarta-feira, propõe, entre outras coisas, uma maior participação do Estado na economia, o fortalecimento dos serviços de bem-estar social, o aumento do crédito para a população de baixa renda, o combate à especulação financeira internacional e a regulamentação do comércio global, com a suspensão dos acordos internacionais na OMC (Organizacao Mundial do Comércio).
Além disso, no campo político, a declaração também pede uma mobilização anti-guerra global para evitar um ataque norte-americano à Siria.
Lembrancas de 2006
A “contracúpula” ocorreu de maneira quase escondida, em um antigo centro cultural para trabalhadores no período soviético, sem indicações do evento na entrada. Também não houve promoção ostensiva do encontro, a não ser em alguns poucos sites de ONGs ligadas à organização do evento.
Nas últimas semanas, alguns ativistas russos disseram ter recebido advertências da polícia contra possíveis manifestações durante os dois dias da cúpula do G20 em São Petersburgo.
Kagarlitsky disse que muitos ativistas ainda se lembram do que ocorreu em 2006, quando a Rússia organizou o encontro de cúpula do G8 (as sete nações mais industrializadas do planeta mais a Rússia), também em São Petersburgo. As poucas pessoas que se aventuraram a protestar abertamente na rua foram fortemente reprimidas pela polícia.
“Isto não é um protesto. Somos também responsáveis pela seguranca dos nossos convidados”, disse ele, acrescentando ter ficado surpreso com a ausência de problemas para a organização do evento.
“Muitas vezes, quando alugamos um espaço para um encontro, nos ligam dias antes do início para dizer que não podemos mais fazer o evento no local, porque o edifício está com problemas hidráulicos ou qualquer desculpa semelhante”, afirmou.
Segurança reforçada
A segurança em São Peterburgo foi intensificada para a realização da cúpula, com o aumento do policiamento nas ruas e o fechamento do trânsito em vários pontos da cidade.
Um dos dois terminais do aeroporto Pulkovo, que serve a cidade, ficará totalmente fechado para voos de carreira durante a realização da cúpula, com apenas alguns poucos voos domésticos e internacionais autorizados no segundo terminal.
A reunião de cúpula acontece no distrito de Strelna, no sul de São Petersburgo, que foi totalmente isolado pela segurança do evento. Apenas as delegações oficiais têm autorização para passar pelos postos de checagem no entorno do local.
Outros funcionários de governos, representantes de organizações que acompanham o encontro e jornalistas chegam apenas ao centro de mídia montado proximo ao local. O acesso é feito apenas de barco, com o embarque autorizado somente após a passagem por detector de metais e revista por raios-x.