NÃO ao Acordo UE/Mercosul; SIM à defesa dos biomas e as populações que neles habitam.

          Foi com indignação que tomamos conhecimento da carta endereçada pelo Ministério de Relações Exteriores, junto com o Ministério da Agricultura e Pecuária, à União Europeia, a respeito do adiamento da implementação do regulamento antidesmatamento da União Europeia (EUDR) para “que a UE não implemente a EUDR a partir do final de 2024 e reavalie urgentemente sua abordagem sobre o tema”.

          O acompanhamento das cadeias de produção de agronegócio em uma série de produtos é fundamental para evitar o avanço do desmatamento no país. Isso vale para importantes produtos de exportação, como carnes, soja e madeiras, que deveriam ter rastreamento obrigatório da origem. Vale lembrar que o governo do Presidente Lula tem se comprometido com o fim do desmatamento até 2030, e não apenas com o fim do desmatamento ilegal, como sugere a correspondência enviada pelo MRE, em conjunto com o MAPA, às autoridades da União Europeia.

          O Brasil vive um momento dramático, quando as chamas consomem porções significativas da vegetação nativa em diversos biomas no território nacional, em função da irresponsabilidade e insensatez de empresários gananciosos do agronegócio, que julgam poder ganhar com as queimadas no desenvolvimento de suas atividades econômicas. Também existem evidências significativas de muitas ações criminosas que buscam prejudicar a credibilidade do combate ao desmatamento promovido pelo governo. Evidentemente, ambas as ações, acabam potencializadas pelas mudanças drásticas que acontecem e acontecerão no clima mundial, com mudanças dramáticas nos regimes de chuvas, entre outras.

Imagem: Joel Silva/Reuters

          Por isso mesmo, é muito absurdo neste momento, que o MRE se posicione na defesa aberta dos interesses do setor econômico agropecuário que com esta atitude contribui decididamente com as mudanças climáticas. Como momento especial, nos referimos em especial ao fogo que se espalha pelo país, mas também à proximidade da COP desse ano e, mais particularmente, à COP do ano que vem, que será no país e pode permitir que o Brasil assuma de vez protagonismo e liderança na discussão do tema. Ou, ao contrário, esse tipo de posicionamento vai abrir caminho para que o país seja questionado por suas políticas ambientais dentro de sua própria casa.

          Manifestações como essa fragilizam a imagem do país na defesa da causa do clima, contribuem para não inibir setores produtivos que hoje buscam apenas formas de contornar compromissos com a defesa do meio ambiente e o fim do desmatamento, e certamente contribui para agravar a situação real de destruição ambiental no país.

          Mais uma vez reiteramos nosso posicionamento contrário ao Acordo UE/Mercosul porque ele significa continuar aprofundando o modelo primário exportador, que reforça a ampliação da fronteira agrícola para expansão da agropecuária, justamente com desmatamento e queimadas nos diversos biomas, avançando e expondo o perigo de savanização à Amazônia. Precisamos mudar o modelo produtivo baseado na concentração de terras que privilegia o agronegócio – que com esta solicitação mostra sua voracidade e vocação predadora, e que coloca em permanente ataque à produção da agricultura familiar, dos povos indígenas, quilombolas e tradicionais que produzem os alimentos que cotidianamente consome a população, garantindo a soberania alimentar brasileira.

NÃO ao ACORDO UE/MERCOSUL!
SIM à defesa dos biomas e as populações que neles habitam!

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