No final de dezembro de 2012, o governo brasileiro anunciou a candidatura do Embaixador Roberto Azevedo ao cargo de Diretor-Geral da OMC. Azevedo, atual representante do Brasil na OMC, vem despontando com peso na disputa ao cargo com outros nove candidatos, sendo sete deles de países em desenvolvimento. Há a expectativa de que o novo DG seja da África ou América Latina, as duas regiões que ainda não ocuparam o cargo.

A Argentina foi o primeiro país a apoiar oficialmente a candidatura brasileira, o que pode ajudar a dar peso a esta frente às outras candidaturas da região, de viés liberal: Costa Rica (considerada forte na disputa) e México (com um candidato potencialmente mais fraco). A falta de consenso na região pode ser um dos calcanhares de Aquiles do embaixador, junto com o fato de que, diferentemente de todos os Diretores-gerais da OMC até o momento, ele nunca ter ocupado cargo ministerial – problema freqüentemente contra-argumentado com referências à vasta experiência dele com os pormenores técnicos e o trânsito nas negociações em Genebra.

Há a expectativa que alguns dos BRICS sigam o mesmo caminho de apoio à candidatura brasileira, o que pode ser fundamental na determinação da disputa que promete ser acirrada até a decisão esperada para 1o de junho deste ano, três meses antes do fim do mandato de Pascal Lamy.

“Se o custo para destravar as negociações for entregar a Direção-Geral ao Brasil, creio também que os desenvolvidos podem acabar apoiando a candidatura brasileira. O Brasil desde 2003/2004 está no centro das conversas na OMC, mas o preço disso pode ser caro demais para o Brasil. Mas o jogo está apenas começando.”, afirma Adhemar Mineiro do DIEESE/REBRIP.

Uma das questões controversas que o Brasil tem capitaneado dentro da OMC mais recentemente tem sido a discussão sobre relação entre câmbio e comércio. Apesar da importância explícita da discussão em tempos de “guerra cambial”, a resistência ao tema na OMC é ampla, inclusive entre os BRICS, como é o caso da China. Na coletiva de imprensa do dia 10 de janeiro, o Embaixador se apressou em assegurar que seu papel como DG não seria de promover a agenda brasileira, mas sim buscar alcançar consensos e destravar a Rodada de Doha.

Para Carlos Milani, pesquisador do IESP/UERJ, “o Brasil não busca esse cargo apenas pela agenda do comércio (a agenda da OMC). Geopoliticamente insatisfeito, o Brasil busca a OMC pelo status internacional. E não vamos esquecer o plano doméstico: seria um trunfo da Política Externa Brasileira em momento fundamental da política doméstica, quando as eleições se aproximam.”

A REBRIP segue acompanhando de perto a disputa pelo cargo, pela importância que isto tem para a conjuntura do sistema de comércio, e por eventuais conseqüências do ponto de vista de mais liberalização que podem advir desse processo sucessório. Com uma postura anti-liberalização comercial, a rede se opõe à perspectiva de conclusão da Rodada de Doha nos termos atualmente negociados.

Segundo Adhemar Mineiro, “a disputa pela Direção Geral da OMC se dá ainda em um quadro em que começa a aparecer explicitamente a chantagem de países e blocos como os EUA, o Canadá, o Japão e a União Européia de que o travamento das negociações da OMC será respondido com o aprofundamento da estratégia de firmar acordos bilaterais ou plurilaterais (como o TPP, Trans Pacific Partnership) apenas com os países que apostarem em mais liberalização e posteriormente estender os termos ultraliberais desses acordos na OMC, esvaziando de certa forma a instituição com sede em Genebra como espaço importante de negociação multilateral.”

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